publicado por [FV] | Terça-feira, 01 Janeiro , 2008, 12:01

Conheci Mestre Lagoa em 1969 quando fazia a aptidão à Escola Superior de Belas Artes de Lisboa. Era um dos professores que acompanhavam o acto de centenas de candidatos que em três dias se esforçavam na prova de desenho estátua em mostrar que tinham talento suficiente para poderem entrar no mundo das artes. Nesse conjunto de professores Mestre Lagoa destacava-se pela postura de intervenção que tinha com (alguns) dos candidatos a ‘artistas’. Tive a felicidade de ter sido um dos contemplados com a sua intervenção e logo ali, mesmo antes de entrar na ESBAL, tive o primeiro dos seus ensinamentos – é preciso saber quando parar. E assim fiz menos um dia de prova de aptidão.

Era um ser humano extraordinário, de humores e de capas (personagens) que criava, sempre de uma riqueza intelectual e artística superiores, em que o dom da oratória e de bom contador de estórias, provocavam o fascínio (ou terror) de com quem com ele convivia.

Sim porque era um homem de extremos. Tal como conseguia pôr-nos nos céus elevando a nossa auto-estima com um elogio, também conseguia por de rastos quando considerava que não tínhamos atingido com valor o trabalho ou o que lhe apresentávamos. Era igualmente bom a dar como a tirar. Utilizava o seu sentido elevado de humor para com sarcasmo pôr de rastos alguns que de forma menos conseguida lhe apareciam ou apresentavam trabalhos.

Comigo foi sempre de uma generosidade extrema, criando-me um sentimento de orgulho e de bem-estar, mesmo quando eu sentia ou julgava não o merecer.

Convivi com Mestre Lagoa em diversas circunstâncias. Como ‘sócio honorário’ como muitas vezes me tratava, como seu aluno em Comunicação Visual, ou como aprendiz no seu ateliê.

Tive a oportunidade de ter conhecido o Escultor, o Desenhador (extraordinário), o Professor e o Homem. Sinto-me um privilegiado.

Recordo-o a embalar ao colo a minha filha mais velha que no berço tinha acordado choramingando.

Mestre Lagoa marcou todo o percurso da minha vida nas artes. Foi com ele que eu aprendi a ‘transformar o olhar em ver’.

É um orgulho e foi um privilégio com ele ter convivido e ter sido alvo dos seus ensinamentos e atenções.

Por motivos da minha vida particular estive afastado do mundo das artes mais de 20 anos.

Acompanhei ao longe e por outros estes seus últimos anos de vida.

Recordo a última vez que o vi. Na Feira da Ladra em Lisboa. Onde me fez uma enorme festa de reencontro.

Hoje dias após a notícia da sua morte, estou a tentar preservar a minha memória.

Porque quando as raízes nos começam a faltar o pouco que nos resta é a memória. Quando esta não nos atraiçoa. Bem-haja Mestre Lagoa Henriques.

 


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